quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Fotografia





Diz-se que o vermelho amargurava fino traço negro.


Toda manhã os cílíos rentes ao mundo se prendiam a uníssono tom, que era para deixar o olhar pronto, que quem o visse soubesse, - estes olhos sobrescrevem o abismo.
Enquanto segurava seu lápis bourjois, Maria, que era Maria porque não nascera Teresa, segurava também a verdade, riscava o que via antes de o ver, metia-se na vida como quem brinca, mas de fato circunscrevia a mira. Tudo o que houvesse abaixo da sua escuridão voluntária, mais singela que qualquer coisa que lhe caiba, fosse mesmo de enigma menor, nada como o que sua íris engloba.

Daí importa que tudo acabe. Ninguém se pergunte mais do que isso. Que a pergunta nem sempre traz resposta, mas inquieta.



Diz-se que o vermelho amargurava.



Mas seus lábios permaneciam imóveis, sabe-se porque não se ouvia. Talvez até caminhasse aquele que sentava. Que sua visão era o numinoso fechando os sentidos.
Alguém seguramente escreveu que ela mirava a Hera que subia os muros. As folhas secundárias verdes, como se as janelas de Maria se fechassem ao entardecer, mais escuras que sua íris. E depois o que vinha, não sei. Ela foi. Seu olhar ficou no muro. Tal hipnose de perfume inodoro. Atrai e prende, e ser presa atrai. Todo um resto de desfoque e uma impressão vaga de caminho.

Quanto tempo, que se mede aqui por abertura e exposição, os relógios já erram, cerram, suas pálpebras.



Diz-se fino traço negro.


O verde cala com Maria, que muda disse, quando viu o silêncio.
E eis que, ao abrirem os olhos de sombra,


assombro,




sentiram-se delineados por ternura.