segunda-feira, 14 de junho de 2010

Direito urbano



Estava caminhando na direção do fórum. Meus pés tremiam e a visão era turva, já se confundia entre a paisagem e um ponto no infinito. Segurava a maleta preta, ela acompanhava meus passos no sentido contrário. Era um movimento pendular e frenético, eu não queria parar. Seguia o tumulto que enche o centro nas tardes escaldantes de agosto. Os carros lutavam para se movimentar nas vias que os transeuntes invandiam e não se preocupavam com o fluxo, a não ser o próprio.

Neste enquanto, minhas pernas conheciam a dor. Sentia o ácido lático no meu corpo, podia mensurar seu movimento. Queria parar. Não. Eu não podia parar. Tinha que alcançar o fórum, era o meu cansaço ou o processo mais importante da minha carreira. Eu não podia falhar. Mas o sinal abriu. Abriu. Por que diabos não esperei que ele fechasse novamente? Meus braços se moviam, possuía os sapatos sobre o negro do asfalto, o branco de tinta, o negro, o bran. Foi tão rápido. Eu não percebia, uma porta que abruptamente se abre e sou bruscamente puxado para dentro.

De repente, estava parado. Mais do que isso, estava no escuro. Algo me envolvia, não enxergava, não conseguia pronunciar palavra alguma, grunhia. Minha circulação não sei se desacelerava ou o pânico que pulsava, só percebia os solavancos do peito e o carro. É. O carro, que é a única coisa que se move e abre portas no trânsito e tem cheiro de borracha.

Pela primeira vez, ouvia uma voz. O que a gente faz com a maleta? Alguém, ao meu lado, respondia. Vamos queimar. Não. Não. Isso não era possível. Eu queria me mexer. Eles não podiam. Não tinham esse direito. Eu. Eu. Eu estava. Imobilizado. Foi quando percebi que talvez me queimassem junto. A partir desse instante, só conseguia pensar em minha mulher. Ela preferia morar em uma cidade pequena. Nada disso estaria acontecendo, se eu, na minha vã ignorância, tivesse lhe dado ouvidos.

Não havia o que fazer. Eu transpirava ou era choro, não sei, o desespero não se diz. Sentia as trepidações do carro. Elas se tornavam vagarosas. Mais vagarosas. Mais. E param. Uma porta novamente é aberta, sou jogado para fora e o carro partia.

Demorei certo tempo para perceber que estava sozinho. Não fosse o cheiro de terra e poeira, não saberia que estava no mato. Rolei, tateei o chão, achei uma pedra. Com muito custo, consegui me desvencilhar das cordas, mordaça, capuz. Via. O sol me cegava. Via. O sol me queimava. Arfava o calor, o tempo, a poeira. Eu me levantei. Não sabia onde estava, mas comecei a andar. Estava caminhando na direção do fórum. Meus pés tremiam e a visão era turva, já se confundia entre a paisagem e um ponto no infinito.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

lágrima



mar mar mar mar água

mágua