"Não se pode fugir a um infinito, disse comigo, fugindo em direção a outro infinito; não se foge da revelação do idêntico, na ilusão de que se pode encontrar o diverso."
Umberto Eco - O pêndulo de Foucault
"As sombras dizem mais às pessoas solitárias, são sempre um esboço menos severo de algo. Se intensas e contínuas, o que nos resta é breu de luar, faz dos olhos nebulosas inconstantes que se abrem e apagam. Nunca sei o que realmente se passa no escuro, quando cerro minhas pálpebras, e nego com inocência infantil que o que miro ao abrí-las possa vir a ser uma miragem ou uma peça que o passado me pregou. Há muito nos instantes em que me ausento. Há tanto que horas se tornam inacabadas por milésimos de segundo inconcebidos.”
Maria parava por sabe-se lá quanto tempo, uma ou duas pitadas de ponteiros. A minha mudez era tamanha que o silêncio fazia com que meus ouvidos doessem. Enquanto ela tocava a xícara com os lábios, minha percepção mais aguçada se encontrava, penso que conseguia ouvir o líquido se movendo.