quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Eu, falo



Eu, falo é um zine que vê graça onde não tem, faz trocadilho até no nome. é um zine de uma ironia nem sempre alcançada pelo público, na verdade, não sabe nem que público tem. afinal, esse é o problema em ser irônico: às vezes se ri sozinho.




Adquira já o seu! ;D

é fácil, msn-me.
jessi_santillo@hotmail.com

mundo operacional

foto: spikeorama.com

somos todos dominós ensangüentados, domínios manchados...
e o vazio afoga feito um oceano de fumaça.

Encantar!

foto: meu quarto: estrelas acima, eu e mágico de óz (meu elefante) abaixo.

A velha brincadeira da criança que cresceu forçado, o verso, o avesso. Poesia é a arte de tirar o formato chato da realidade, de transcender a mesmice até o riso e tornar a brilhante mentira em obscura verdade. Desordem, profundidade, loucura, ironia, intensidade, seja entoada ou em cântico, mas coisa fina, coisa pequena, coisa tão leve que toca a alma do Homem de olhos abertos.

É assim que Eucanãa Ferraz organiza “Veneno Antimonotonia”, abre-nos um leque de poemas e canções, uma variedade de oportunidades de transformação. Com essa antologia, Eucanãa busca matar o tédio, envenená-lo, trucidá-lo, mostrando a capacidade iluminadora do trocadilho, do desabafo, da brincadeira, o ensaio dos poetas.

Ele admite: auto-ajuda. Mas não por conceito chinfrim, daquele modelito de vender ajuda indiferente e reciclada a preço de mercado. Pelo contrário, auto-ajuda apenas porque toda poesia é ajuda na ludibriação, conquista de auto-renovação. Não é um livro de muitas delongas, é livro de acaso, de se abrir de vez em quando (sempre) e se encantar. Afinal, o que seria vivo sem os pequenos encantamentos?

Contudo, que fique claro:

Este texto também não é uma bula.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

A gente inundada



diário: nina lugovskaia

Era um dia desses, sabe, que o sol tá tão quente que você sente seus miolos entrando em ebulição, tão quente que aquele mundo de casas mais parece deserto e toda aquela gente que aparece você quer distância, porque você quer derreter lentamente e sozinha...Muito sozinha. E bem sozinha. Mas esse dia era especial. Tinha 180 dias que não chovia, nem sequer uma gota, uma gotinha sequer.
Nos primeiros dias, ninguém tava levando lá muita seriedade nisso, mas começou a acabar a água, foi aí que de repente todo mundo parou de andar de carro. É. Juro. Inacreditavelmente, todo mundo. Nunca vi tanta bicicleta sendo vendida, muito menos tanta gente de biquíni e sunga. Tá certo que o Brasil é um país tropical, mas o uso em massa de trajes de banho é mais comum na orla, nunca vi coisa igual nesse interior de Goiás. Uma loucura.
Até grande empresário vinha fazendo passeata nu, um deles era o Seu Tonho, um dos mais exarcebados, brandava, gritava, esperneava, provocava choro grande. Esse dava trabalho, mas muito trabalho, organizava sequestros-relâmpagos de vendedores de água, fazia protestos contra as mulheres que só namoravam caras que tinham piscina em casa. E com razão, os preços estavam exorbitantes e as mulheres querendo salvar suas peles, afinal, a piscina era a garantia financeira do matrimônio.
Seu Tonho criou um jornalzinho de papel reciclado, achou que assim ia ser mais fácil convencer as pessoas, já que quase ninguém mais se importava com usar roupas ou não. Acabou que conseguiu. Ficou popular num estalo. Todas as mães que queriam um futuro mais digno para os filhos o apoiavam. Ficou tão popular que queriam colocá-lo no governo do estado. E acabaram por tentar isso mesmo.
Campanha geral. Ninguém esperava, no meio da comodidade que nosso povo costuma levar as coisas, que isso acontecesse. O Movimento Aqüífero Goiano (MAG). Estranho? Mais ainda era seu objetivo: fabricar água. Isso mesmo. Desenvolver uma máquina com uma super bomba de hidrogênio e explodi-la numa cidade evacuada. E fizeram a bomba-máquina-hidrogenada. Para tanto que virou uma romaria. Quem apoiava ou não Seu Tonho... Jornaizinhos de papel reciclado e jornaizinhos... Ganhou as eleições.
Festa geral. Ia assumir com gosto, a primeira coisa pela qual ele tinha realmente lutado, subiu ao pódio, começou o discurso: “Gostaria de agradecer a...”.
Choveu.
Bem quando tava todo mundo achando que aquela fumaceira no céu eram fogos de artifícios, caiu foi água. Caiu, não. Despencou. Tanto que até granizo desceu do céu. E o que era um movimento virou uma revolta, executaram Seu Tonho, voltaram a seus lares, às suas casinhas e suas vidinhas pacatas e tudo ficou por isso mesmo. Sem mais jornais reciclados, nem namorados com piscinas, biquínis e sungas só quando tiver turismo, água e água sendo desperdiçada. É, o problema é que só eu lembrei de uma coisinha, uma coisinha bem desimportante. A bomba. Esqueceram da bomba. E ela vai explodir a qualquer instante. Não dá mais tempo de escrever e contar o resto. Tenho que ver meus filhos pela última vez. Precisava desabafar... Obrigada, diário.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

guardo para você

foto: eu x)
meu poema mais meloso
minha parte mais louca
meu coração fatiado
minha escova de dente
meu travesseiro
minha cara amassada
meu humor negro
minha fala enrolada
meu riso alto
minha ligação dativa
meu livro
minha cama
meu espanto
minha chatice
meu grito baixo
minha arte
meu corpo
minha viagem
meu mapa
me guardo para você

domingo, 9 de setembro de 2007

autofagia

quadro:cezanne


se assim fosse não, meu bem
essa saia justa que te fica tão larga
esse seu senso que já se perdeu
essa sua fome que nem tem mais
ah, se assim não fosse
se a doença não tivesse encontrado
tanta vida a engolir até os ossos
ah, se eu pudesse
mudaria cada marca-passo
esse olhar vago
todo o silêncio que te levou