quinta-feira, 3 de abril de 2008

Cara

eu queria falar com você. não. eu não queria falar nada. eu queria que você me olhasse outra vez com aqueles olhos de que entende tudo. de que me entende tudo. e risse dessa minha teimosia em tentar achar resposta pro que não deve ter. queria mesmo era te guardar do meu lado de um jeito menos conotativo. e que não houvesse mais com quem eu gostasse de conversar só porque me lembrava você. haveria você. menos quases. você. engraçado, chega a ser quase patético, como eu ainda teimo em buscar as palavras certas pra te dizer o que eu não sei. e você aí, parado, nesse porta-retrato da minha estante. rindo. será que ri? eu queria que o riso continuasse. e chegasse no fim. em vez desse riso infinito em que eu não te tenho mais. queria um em que eu fosse o motivo dele e outro fim. e outro começo. mas parou. bem no meiozinho. não tem fim, nem começo mais. e eu tento te dizer todas as palavras certas, porque... só me restou o seu silêncio. tão cheio. e eu preciso te catar nele. feito uma peregrina cega no meio da selva amazônica, sujeita a qualquer tipo de precipício. eu vou descascando tudo feito cebola. e choro. bem baixo. de vez em quando até a lágrima briga pra não descer e não incomodar o rosto. você não ouve. eu tento me iludir que é porque o som é muito baixo. queria te perguntar se aí faz muito frio, mas não sei se existe aí. na chácara ventava tanto. tem tempo que eu não me vejo ventando por lá. alguém podou as árvores. elas cresceram de volta. a verdade é... aqui tá uma merda, cara. deixa esse retrato, faz favor.
...
por favor, não comentem esse texto.

2 comentários:

Rafael disse...

Desculpe desobedecer ao pedido, mas não pude me conter.
Sou vil: julgo e maldigo! A verdade é que aqueles que querer escrever em aforismas; os que escrevem frases curtas, soltas e, sim, desconexas, bem, esses me parecem confusos de raciocínio e, querendo demonstrar intelectualidade onde há desordem.
Esse seu texto é, há muito, o primeiro do estilo que me foge à regra. Entendi perfeitamente a lógica da sua desordem. Absorvi das entrelinhas a coerência da desproporção. Mesmo que talvez você apenas quisesse ser incompreendida e falar, mesmo, palavras ao vento.
Mas espere, não tenha esperanças ou arrependimentos. Entendi a minha razão em tuas palavras. Não me entenda mal, afinal, o que é entendimento senão minha devassidão na sua insanidade?

Rafael disse...

em resposta ao título:
coroa! ;-)