quinta-feira, 3 de abril de 2008

Televisão combate disfemismo

Ah, se quer saber mesmo, discordo. Discordo, porque achar que tevê dita a ordem na cabeça de toda a gente, entre os plim-plins e o sofá das casas bahia, é o mesmo que negar que não existe acordo com a vida medíocre que se leva ou que se é obrigado a levar. Não, não existe isso de que a qualidade televisiva é péssima apenas aqui, Brasil, país-sub. Para ser franca, os programas de alto ibope são sempre porcalhões em qualquer canto e sub-espaço do mundo. E, casos vocês se interessem pelo motivo, experimentem passar um dia inteiro observando as pessoas com quem convivem. Elas estão sempre preocupadas com a conta do aluguel, a janela que emperrou, o casamento que não chega e aquele que não vai bem, a roupa da festa do sábado, ..., não é mesmo? No final das contas, compras e causos, todas precisam de um placebo, algo que as faça esquecer que o chefe talvez corte seus salários, a moça da esquina teve um caso com o marido da outra e todo o resto da vida imperfeita que levam. Aí a televisão entra, enviando vibrações ilusivas, vidas perfeitas, romances que terminam sempre felizes, assuntos chocantes, os babados dos famosos... Seria isso ruim? Respondam-me vocês. Sentadas, elas recebem uma nova vida tão perto e tão distante da que levam. Mas não há o que mudar, precisam e cada uma delas, mesmo que seja inconsciente, sabe que precisa de ser vendida, ser comprada, receber notícias pelas metades, a realidade sob um ângulo econômico... Desse jeito eufêmico, porque a realidade crua é como nudez em praça pública, vulgar demais. Para quem diz que não assiste programa algum, vale dizer que não é mais privilegiado. Faz parte do grupo dos que se olham no espelho e não sabem de onde vieram as cincunstâncias do mundo em que se encaixam. Não estou defendendo a tevê, ela manipula, sim, mas apenas quando seus espectadores pedem para serem dominados, o que acontece na maioria dos casos. Verdade é, o eufemismo é bom, mas na dose certa: não dá para ignorar um peladão na praça pública, só porque na televisão isso é nu artístico.

2 comentários:

Rafael disse...

Concordo em vários pontos, e gostei, em geral, do texto.
Não acho, embora, que televisão seja basicamente consolo para avílio das tensões cotidianas.
História! Pra mim, essa é a chave. Todos nós adoramos história, exercitar a imaginação, sonhar com o que não aconteceu e poder saber de como eram as coisas antes de nós. Daí, uns partem para o meio mais cômodo: televisão; outros pra um meio mais instigante e reflexivo: livros; outros para os mais tradicionais: escutar as estórias do vô em volta a uma fogueira. E assim vai. E um, não necessariamente, tem que ser melhor que o outro ou sobrepor o outro.
Todos adoramos histórias, sejam as que se assemelham a nossas vidas, sejam as de amor, de fantasia ou ficção.
*Suspiro*

Rafael disse...

(...) consolo para aliviar (...)