domingo, 27 de abril de 2008

... joga-me a corda?


acorda esse laço
discorda esse traço
mas, por favor,
dá-me cordão e compasso
e laça meu jogo trêspaçado.
{nó}

terça-feira, 15 de abril de 2008

aviãozinho pro rafael

fui pro pensol.

@;

na saúde e na doença



o templo que construo é meu e dos trinta mil egos de cada noite
e, se assim couber, é o único compromisso que atenho a cumprir
eu e os trinta mil egos, decifrando as derivações formais do céu de isopor
e quantas borboletas houver no lençol
e quantas idéias houver no pensol
.
'

quinta-feira, 10 de abril de 2008

(poema paleozóico)


e as minhas estrelas caídas sobre o chão tentam germinar.

quando é dia, as rosas ofuscam o seu brilho, mas a noite sempre chega...

mostrando que a verdade está em nichos que a luz oculta

e a escuridão enxerga.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Abner e Katy


(diz uma menina que
abraça o violão
quando tem
saudade)

Era mais meu amigo do que instrumento. De vez em quando, eu o usava para sustentar o vazio, mas na maioria das vezes ele sustentava sinfonias. Guardava no calor todos os sons entendíveis apenas por um violão. E no sorriso, o arranjo perfeito entre as minhas mãos.
Era homem.
Tinha o corpo calejado, cheio de defeitos e a história pelo meio. Carregava no peito uma partitura. Não sabia se em sol ou dó.

Avistei cantarolando em meu caderno um piano rubro.
Delimitava em fá's mi-lá-si-ando.

(aaai, eu vou terminar, juro.)

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Cara

eu queria falar com você. não. eu não queria falar nada. eu queria que você me olhasse outra vez com aqueles olhos de que entende tudo. de que me entende tudo. e risse dessa minha teimosia em tentar achar resposta pro que não deve ter. queria mesmo era te guardar do meu lado de um jeito menos conotativo. e que não houvesse mais com quem eu gostasse de conversar só porque me lembrava você. haveria você. menos quases. você. engraçado, chega a ser quase patético, como eu ainda teimo em buscar as palavras certas pra te dizer o que eu não sei. e você aí, parado, nesse porta-retrato da minha estante. rindo. será que ri? eu queria que o riso continuasse. e chegasse no fim. em vez desse riso infinito em que eu não te tenho mais. queria um em que eu fosse o motivo dele e outro fim. e outro começo. mas parou. bem no meiozinho. não tem fim, nem começo mais. e eu tento te dizer todas as palavras certas, porque... só me restou o seu silêncio. tão cheio. e eu preciso te catar nele. feito uma peregrina cega no meio da selva amazônica, sujeita a qualquer tipo de precipício. eu vou descascando tudo feito cebola. e choro. bem baixo. de vez em quando até a lágrima briga pra não descer e não incomodar o rosto. você não ouve. eu tento me iludir que é porque o som é muito baixo. queria te perguntar se aí faz muito frio, mas não sei se existe aí. na chácara ventava tanto. tem tempo que eu não me vejo ventando por lá. alguém podou as árvores. elas cresceram de volta. a verdade é... aqui tá uma merda, cara. deixa esse retrato, faz favor.
...
por favor, não comentem esse texto.

tentou escrever muda


mas rabiscar era o grito
que revidava na face
do som que engolia.

Televisão combate disfemismo

Ah, se quer saber mesmo, discordo. Discordo, porque achar que tevê dita a ordem na cabeça de toda a gente, entre os plim-plins e o sofá das casas bahia, é o mesmo que negar que não existe acordo com a vida medíocre que se leva ou que se é obrigado a levar. Não, não existe isso de que a qualidade televisiva é péssima apenas aqui, Brasil, país-sub. Para ser franca, os programas de alto ibope são sempre porcalhões em qualquer canto e sub-espaço do mundo. E, casos vocês se interessem pelo motivo, experimentem passar um dia inteiro observando as pessoas com quem convivem. Elas estão sempre preocupadas com a conta do aluguel, a janela que emperrou, o casamento que não chega e aquele que não vai bem, a roupa da festa do sábado, ..., não é mesmo? No final das contas, compras e causos, todas precisam de um placebo, algo que as faça esquecer que o chefe talvez corte seus salários, a moça da esquina teve um caso com o marido da outra e todo o resto da vida imperfeita que levam. Aí a televisão entra, enviando vibrações ilusivas, vidas perfeitas, romances que terminam sempre felizes, assuntos chocantes, os babados dos famosos... Seria isso ruim? Respondam-me vocês. Sentadas, elas recebem uma nova vida tão perto e tão distante da que levam. Mas não há o que mudar, precisam e cada uma delas, mesmo que seja inconsciente, sabe que precisa de ser vendida, ser comprada, receber notícias pelas metades, a realidade sob um ângulo econômico... Desse jeito eufêmico, porque a realidade crua é como nudez em praça pública, vulgar demais. Para quem diz que não assiste programa algum, vale dizer que não é mais privilegiado. Faz parte do grupo dos que se olham no espelho e não sabem de onde vieram as cincunstâncias do mundo em que se encaixam. Não estou defendendo a tevê, ela manipula, sim, mas apenas quando seus espectadores pedem para serem dominados, o que acontece na maioria dos casos. Verdade é, o eufemismo é bom, mas na dose certa: não dá para ignorar um peladão na praça pública, só porque na televisão isso é nu artístico.