segunda-feira, 31 de março de 2008

Caramel




Carmelita ia com seus sapatos cor de mel
caminhando pelas ruas de papel
com seu sotaque carmel de deixar de dó
e toda avenida quase se suicida de tanta corrida
por seus olhos camelos, vagarosos sujeitos
perto dos cabelos caracóis, georgóis dos céus
fazendo pose de beldade bebendo na cidade
ia seu sotaque rouco roendo a puberdade
e se perguntando, o que é realmente a felicidade?
nessa festa via o mundo todo besta
com rabo de coelho e nariz de elefante
montou foi num camelo a procura do azul rinoceronte
girando pelo globo, Carmelita tropeça em caracóis
e pergunta, por que sois sóis tão amarelos?
sem saber onde que começa ou finda
ela caminha em busca do Senhor Caramelo
que de tanto doce saiu testando todo sal da terra
e por essa vida todo mundo quase grita
essa menina Carmelita e seu camelo caracol

domingo, 23 de março de 2008

Ele


carregou o sol nas mãos. carregou o mundo inteiro e mais um pouco de tão leve. queimando, a estrela brincava de roçar luz pelos seus dedos. ele inspirava o vento solar, expirava ar cósmico. guardava o momento sem a pressa, sentou ao chão, abriu o peito, deixou-se, invadido pelo nada. pelo tudo. era sol, estrela, nada, tudo. carregou-se para fora e repousou as mãos para cima sobre os joelhos, esperando ser preenchido. roçou-se com luz. invadido, joardo brincava de sol. joardo era sol, estrela, nada, tudo.

só queria maçãs



foto: Cristian Phillips
edição: Carol Stieler
url: http://flickr.com/photos/wing-it/ ou http://flickr.com/photos/dustflow


disseram que eu devia me deixar em paz. abocanhar o seu prazer e me esquecer. imagino tentar testar meu sexo sozinha. imagino carregar o prazer com pilhas. é tão sensual ser só hoje em dia: posso carregar meu amor com meu cartão de crédito. até onde você me carregaria? no seu bolso, no seu gozo, nos seus olhos? qualquer um seria mais. mais do que eu chego pedante ao prostíbulo da esquina e peço o mecânico. mais. fruto proibido. de tão livre se perdeu. na época dos bacanais ainda podia ser chamada de desvirtuosa e amaldiçoada. hoje eu só queria maçãs. mas até elas estão no supermercado.

para que os hormônios não me tornem parcial,


não sou uma mulher que costuma ter tpm. na verdade, eu me sinto até meio macho, quase não fico menstruada. é, sério. tenho algum tipo de problema hormonal (que não sei falar o nome)(e que fique claro que biologia não é meu forte), que me deixa meses e meses sem o tal sangue nas ventas. mas quando meu endométrio descama, descama com gosto. do tipo de dar cólicas horríveis e semana todinha usando noturno. mas isso não vem ao caso... quero dizer; tenho dias de homem. daqueles em que eu me sinto uma desgraça enorme e ajo o mais prepotente possível. não que isso seja másculo, mas homem tem disso mesmo sem tpm.

eu carrego meu corpo pela sala e atravesso a sacada do meu apartamento, jogo a base ao chão e abraço meus joelhos, como se meios termos bastassem. escondida, atrás do sofázinho da minha mãe, eu fito o canteiro e o canteiro me fita. lá, eu me descasco feito cebola. mas nesses dias eu não choro. em cada capa que eu retiro, procuro um alguém para ver se encaixa, ver se entende, ver se alcança. nada! toda crosta se vai, resta apenas uma mancha de líquido sulfuroso e ninguém. cada pedacinho, uma visão parcial de alguém que me escapuliu. sobra em mim aquela vontade enorme de me dividir e um vazio. os restos e o vazio. não há encaixe, não há encontro.

só assim que eu descubro. não existe par. talvez um quase-par. as pessoas não foram feitas para serem encaixadas. todas, números ímpares, quase se encaixam. os amantes se soldam, os aversos se atritam, os sozinhos sonham com encaixes perfeitos. eu, desviada, me sinto prostituída de tanto não-saber, penso que talvez expressar seja em vão, mas o vão é o que fica sem as cascas. quase-encaixes... a imperfeição torna tudo mesmo suficiente, não é? o cheio dos outros e o vazio seu equilibrados para que não falte espaço para ser e des-ser o tempo inteiro.

sexta-feira, 21 de março de 2008

eu sou escritora




desde sempre
desde antes de nascer
desde quando o espermatozóide disse pro óvulo:


- oi, tudo bem? fiz um poema pra você.

quinta-feira, 13 de março de 2008

nesses dias tão à vácuo...

foto: lily donaldson
se quer saber onde eu coloco minha profundidade
pra não falar que enfio no buraco
jogo na privada e dou descarga
.

quarta-feira, 12 de março de 2008

De maneira poética!


Queria saber quem foi o infeliz que pela primeira vez conotou a poesia como visão bela da palavra... Poesia está para vida tal qual cor está para tinta, existem dias de escuridão. Dias, muitos dias, em que uma nuvem de poeira cola nossas pálpebras e ficamos apenas com o irreal, acreditando que aquele verde da bandeira é o Brasil-multi: multiplicada fauna, multiplicada riqueza, multiplicada esperança, o Brasil de todos.

Crescimento, é essa a palavra, mas o país já é enorme, não é mesmo? Crescer para quê?! O crescimento econômico da China e da Índia nos últimos anos beneficiou a América Latina, o Brasil não precisa se auto-beneficiar... Afinal nós somos um país multi-ético, sem preconceito, sem desigualdades, é por isso que a mulher latino-americana ainda recebe salário entre 20% e 30% menor do que o homem nas mesmas atividades.

É, pessoal, vamos potencializar o jovem do tráfico de drogas! Ele salvará sua comunidade, investimentos na educação de base não. Melhores qualificações e empregos... Quem precisa disso? Nós somos um povo bonito, povo do futebol, povo que samba! Se nada tem, faz um batuque, faz um rebolado, não reclama, não luta, não muda... ginga!

Ainda tem quem tente abrir os olhos, passar um pano úmido na poeira, fitar o lema nacional estirado em mastros, mas ao procurar o verde exuberante encontra uma mancha negra. Feito um buraco, ela parece engolir o losango, o globo e toda a ordem e progresso. Quem tem coragem fita que todo o excesso de esperança virou desespero profano, em que cada passo do sambista é um andar em falso.